EDUCAR PARA A VIDA!
Filhos são vidas preciosas. Antes de trazer um filho para a sua existência prepare o seu colo. Não apenas o físico e o financeiro, que provê o suprimento das necessidades físicas e materiais. Mas prepare especialmente o colo da alma, aquele que provê o sentido de pertencimento e do sentido da vida. O colo físico e material certamente é importante, mas precisa ser prescrito de acordo com os parâmetros do colo da alma.
Pais que preparam apenas o colo físico e material para seus filhos, correm o risco de serem vistos como meros recursos exploráveis para amenizar, ou mesmo extinguir, qualquer frustração. Seja na comida, no brinquedo, na rotina da casa ou nas dinâmicas familiares, seus desejos se apresentam imperativos para que os pais os cumpram.
Já pais que preparam o colo da alma se dedicam e se empenham com responsabilidade no processo de educar para a vida e não apenas em prover prazeres e extinguir frustrações. Com a sua alma promovem o acolhimento em amor, aceitação, inclusão e cuidado. Não dando-lhes um lugar narcísico, como se ninguém e nada mais fosse importante, mas num aconchego em que o colo que os recebe propicia um lugar de pessoa que merece ser vista, ouvida, reconhecida, respeitada e educada para a vida.
Educar para a vida certamente inclui ajudar seu filho a adquirir autonomia, como comer, andar, dormir, tomar banho, escovar os dentes, falar etc., como também a desenvolver a sua inteligência levando-o à escola e demais contextos que possam expandir seu lado cognitivo. Mas, isso não basta para que tenha os repertórios necessários para enfrentar a vida. Educar para a vida envolve especialmente ajudar o seu filho a adquirir habilidades e capacidades psíquicas para lidar com as pequenas frustrações da infância, depois com as peculiares angústias da adolescência e posteriormente para enfrentar os grandes desafios do mundo adulto, que é repleto de injustiças e desigualdades. É assim o ciclo da vida. É preciso aprender desde cedo que não se pode ter tudo o que se quer e nem a todo tempo, nem mesmo o sabor preferido, a alegria da brincadeira, a festa na piscina, a música embalando a dança, as risadas com os amigos e as sensações dos filmes, animações e games. É preciso também aprender a comer direito, a dormir na hora certa, a estudar, a arrumar o quarto, a levar o prato para a pia e também a lavá-lo. Aprender a dividir também é preciso, o brinquedo, o espaço, o tempo e a vez. Até mesmo é indispensável aprender a ser gentil, a perdoar e a pedir perdão, agradecer, ser benevolente e empático. Provavelmente, esses aprendizados serão mais relevantes do que saber usar o tablet aos dois anos.
Educar para a vida é construir um ser transformador, canalizando a sua inteligência para o bem, sensibilizando seus sentimentos, potencializando suas virtudes, estimulando as conquistas e o fortalecimento de princípios e valores consistentes, como nos orienta o Instituto Brasileiro de Educação Moral. É ajudar o seu filho a desenvolver uma autonomia moral diante da vida, que seria uma aptidão para perceber o mundo à sua volta, as pessoas e a si próprio e saber interagir com tudo e todos de acordo com princípios éticos e morais que prezam pela dignidade humana, a liberdade, a solidariedade e a igualdade. A autonomia moral se estabelece gradativamente ao longo do desenvolvimento, em que os filhos vão amadurecendo com uma autoestima que os posicione diante dos outros e de si próprios de uma forma mais saudável.
Dessa forma, educar um filho para a vida vai muito além de aprender algumas técnicas para fazê-lo obedecer e se enquadrar a uma normatização ou a condicioná-lo como se fosse um animalzinho de estimação que abana o seu rabinho ou se aninha em seu colo de forma aconchegante, habilmente treinado pelo mecanismo de recompensa.
Dentre todos os objetivos que os pais possam ter para os seus filhos, o objetivo de ajudá-los a adquirir uma autonomia moral deverá estar no topo da lista. Poderá e deverá ajudá-lo a encontrar um caminho profissional. No entanto, se vier a ser médico, advogado, psicólogo, professor, pastor, padre, missionário, pedreiro, diarista, artista ou qualquer outro tipo de profissional, juntamente terá que se tornar um ser humano capaz de gerenciar suas emoções e relações.
Se o seu filho for inteligente e não tiver um adulto responsável ajudando-o a canalizar o seu potencial para o bem, sua vida poderá vir a ser uma desgraça. Se o seu filho tiver potencial para liderança e não tiver ajuda para aprender a compaixão poderá se tornar um tirano. Se for esperto nas brincadeiras e não houver quem corrija as suas trapaças, por menores que sejam, poderá se especializar nelas. Se diante das descompensações emocionais não obtiver ajuda para enfrentá-las de forma saudável poderá aprender que gritar, espernear, bater, morder, quebrar, prejudicar outros e a si próprio são práticas aceitáveis. E se os filhos tiverem nos pais um exemplo de descontrole emocional diante dos desafios e frustrações da vida, em que o clima relacional familiar vivido é tenso e opressor ou permissivo e sem fronteiras ou ainda cheio de intervenções inadequadas ou mesmo negligenciadas, poderá herdar uma maldição comportamental, emocional, relacional, psíquica e espiritual pior do que qualquer maldição que possa provir do além.
Educar filhos sempre foi difícil, em todas as épocas e gerações. No entanto, a geração atual de pais tem um desafio que nenhuma outra teve: a internet. Junto à ela soma-se o reconhecimento da infância e da adolescência, marcando os estágios do desenvolvimento. Esses novos desafios não são negativos, pois a internet nos trouxe tecnologias que nos favorecem sobremaneira em vários sentidos. O novo olhar para a infância e adolescência favorece uma interação mais positiva para o desenvolvimento humano e é uma bênção. No entanto, é preciso aprender com as novas tecnologias e com o novo olhar para as crianças e adolescentes. O uso das tecnologias precisa de limites e monitoria constante. Obviamente seu filho saberá apertar botões desde muito cedo. Mas, além de saber apertar botões é preciso aprender a controlar suas emoções. Por isso, utilizar a tecnologia em todo momento para distrair o seu filho quando está agitado, frustrado, triste ou com raiva, poderá ensiná-lo a fugir de suas emoções ao invés de ajudá-lo a sintonizar com elas de forma saudável.
Para interagir com os filhos, pais também precisam crescer. Não mais é possível simplesmente impor aos filhos, as vontades e desejos soberanos, de forma autoritária e narcísica. É preciso aprender a falar firme, mas com ternura, a ouvir as palavras sem deixar de escutar os clamores do coração. E que os pais aprendam a assumir o status de adultos da casa, se conscientizando de que devem ser os mais maduros e preparados para estabelecer as rotinas, os limites, as disciplinas, as instruções e as dinâmicas familiares. Para isso, é preciso abandonar o mito de que com seu instinto materno ou paterno darão conta de educar seus filhos. Ledo engano. Educar filhos é uma tarefa árdua e requer aprendizado constante e muita atenção.
O dito aqui não é para culpabilizar os pais, mas para salientar a importância de se engajarem com responsabilidade na função parental. A monitoria não é apenas um dever, mas também um direito. Não se iniba, diante da sua função de pai ou mãe, achando que tem que respeitar a privacidade do seu filho não podendo "bisbilhotar" o que ele faz no computador ou celular. Lembre-se: seu filho criança, e mesmo adolescente, por mais esperto e inteligente que seja, ainda não alcançou maturidade suficiente para discernir a respeito de tudo que lhe é apresentado.
Não abandone seus filhos diante das telas. Se você não ajudar a tirá-los de lá poderão estar em sérios riscos. Os riscos envolvem acessos à imagens perniciosas e pessoas mal intencionadas, ou favorecem o desenvolvimento de comportamentos viciantes. No entanto, envolvem também a falta de aprendizados enriquecedores para a vida e as desconexões nas relações humanas, com a natureza e com a espiritualidade. Para educar para a vida é necessário tirar os filhos de atitudes passivas e reativas, e ajudá-los a desenvolver atitudes proativas de interação familiar, no exercício da generosidade, empatia, compaixão e amor ao próximo. Pais e mães foram designados para essa tarefa na vida de seus filhos. Acredite, se você é pai ou mãe, você pode e consegue. Caso precisar de ajuda, procure, mas jamais desista de seu filho.