HOMEM E MULHER RECONHECENDO-SE CAPAZES EM RAZÃO E EMOÇÃO!
A ideia de que a provisão financeira para o lar é tarefa apenas do homem e que os cuidados da casa são tarefas somente da mulher é um paradigma solidificado em torno de uma percepção polarizada dos estereótipos homem/mulher.
Em um polo estaria o homem, considerado detentor da “razão”. Suas capacidades racionais lhe confeririam o potencial do pensamento, do raciocínio lógico, do planejamento, organização, objetividade e foco. O “ser racional” seria da natureza do homem e, portanto, estaria apto para as funções administrativas, governamentais, executivas e de liderança em uma sociedade e família. O que significaria que seria do homem a tarefa de empreender, lançar-se ao mercado de trabalho e trazer os recursos financeiros para a família. Como não teria habilidades inatas (ou muito empobrecidas) para a emoção, estaria liberado das demonstrações de afeto, envolvimento em diálogos com sua parceira e filhos, bem como em qualquer tarefa que envolvesse cuidados. Se apresentasse esses comportamentos seria até mesmo questionado em sua hombridade. Bastaria ser bem-sucedido no trabalho e prover os recursos financeiros para o ambiente doméstico. As tarefas que não entram no bojo da obtenção de recursos financeiros não seriam dele, até mesmo seria humilhante se envolver nelas, como lavar a louça, por exemplo. Se acreditava que o homem, por ser direcionado racionalmente à objetividade, não teria capacidade de fazer mais de uma coisa por vez. Uma mulher teria “achado um bom homem” se este fosse trabalhador arrojado e conseguisse arrecadar recursos expressivos. Mesmo que fosse rude e grosseiro, deveria ser grata e se contentar com esse “bom homem”.
No outro polo estaria a mulher, considerada detentora da “emoção”. Suas capacidades afetivas lhe confeririam o potencial das emoções, dos relacionamentos e das conversas. O “ser emoção” seria da natureza da mulher e, portanto, estaria apta para as funções de cuidado, serviço e auxílio em uma sociedade e família. O que significaria que seria da mulher a tarefa de cuidar do marido, dos filhos e da casa. Como não teria habilidades inatas (ou muito deficientes) para o raciocínio, estaria inapta para assumir posturas de liderança e empreendedorismo. Nem mesmo podia ir para a escola regular, pois acreditava-se que não teria capacidade intelectual para acompanhar os estudos. Um homem teria “achado uma boa mulher” se esta fosse habilidosa nas questões domésticas e afetivas e não o importunasse com curiosidades e cobranças que exigissem seu empenho em questões afetivas, relacionais e domésticas.
Na história conhecemos, especialmente por meio dos gregos, que a razão foi elencada como habilidade soberana em relação à emoção. O potencial racional colocava uma pessoa em superioridade na relação com alguém “meramente emocional”. Acreditava-se que uma pessoa equilibrada seria aquela orientada tão somente pela razão. As emoções eram vistas como fraquezas de pessoas frágeis, e até certo ponto ignorantes. Dessa forma, o homem foi definido como superior em relação à mulher.
E assim, nessa polarização, foram delimitados os papéis para homens e mulheres na sociedade e família, ao longo da civilização humana. Os homens seriam os fortes, os racionais, que lideram e empreendem e as mulheres as frágeis, as emocionais, que se submetem às tarefas menores que envolvem os cuidados num círculo reservado e restrito do ambiente doméstico e que não requereriam capacidades de raciocínio. Por esse vies, delimitou-se que o homem fosse o provedor e a mulher a cuidadora das questões domésticas. O homem traria os recursos e a mulher ficaria responsável pelas limpezas, higienes e cuidado das louças, roupas, casa, refeições, filhos, marido etc.
Novas leituras já quebraram o paradigma polarizado de “homem razão” e “mulher emoção”. Os estudos sobre o cérebro humano mostram o óbvio, de que ambos, homem e mulher, têm razão e emoção, ou seja, capacidade para pensar e sentir. O equilíbrio psíquico se estabelece pela integração da razão e da emoção, tanto em homens como em mulheres. A tendência dos homens à razão e das mulheres à emoção tem mais a ver com as formas polarizadas na socialização de homens e mulheres do que com a sua natureza propriamente dita. Sempre que falamos para um menino que “homem não chora” estamos mentindo, sendo que a verdade é que homem chora porque também sente. E da mesma forma estamos mentindo quando falamos para uma menina que “mulher não pode questionar”, sendo que a verdade é que mulher questiona porque também pensa.
Realinhando o potencial racional e emocional, para capacidades reconhecidas tanto em homens como em mulheres, os papéis e as tarefas passam por mudanças radicais. O homem podendo demonstrar suas emoções nas relações se torna mais participativo no convívio doméstico, reconhecendo seu lar como sendo também o seu ambiente de cuidado. O lar passa a ser um lugar de interação afetiva, empática e colaborativa, não apenas um lugar onde ele habita, provê o sustento e usufrui do serviço obtido por sua "boa mulher". A mulher, por sua vez, aceita em seu potencial intelectual passa a expressar ideias empreendedoras, engendrando-se também no mercado de trabalho nas mais variadas funções, incluindo cargos administrativos, executivos, governamentais e de liderança. O mundo para além das paredes domésticas passa a ser também o seu lugar de intervenção e troca de experiências, não um lugar proibido, como se não lhe pertencesse.
Dessa forma ambos, homem e mulher, passam a ser provedores e cuidadores das questões sociais, familiares e domésticas, bem como dos assuntos do coração, da mente, da alma e do espírito.
A pergunta “Você ajuda a sua mulher em casa?”, começa a causar espanto. Alguns ainda respondem “sim, claro, ajudo, entendo que as vezes eu posso, e até devo ajudar em alguma coisa”, numa avaliação de que o homem entraria como “ajudante”, como se fosse uma atitude altruísta de “bom moço”. No entanto, já vemos um bom coro de homens entoando nova resposta “Não, eu não ajudo. Eu faço a minha parte. A louça, a roupa e a casa suja não são somente da minha esposa. Da mesma forma os filhos não são só dela. Como tudo isso é meu também, reconheço que devo fazer minha parte”.
Na contraproposta as mulheres são convidadas a evoluir entendendo que ao trabalharem fora do ambiente doméstico não estão apenas “ajudando com as contas quando der”, como se fosse uma expressão de generosidade, ou conseguindo um "dinheirinho extra" para comprar suas coisas. Uma mulher deve reconhecer que as contas também são dela, pois come, dorme, usa energia, água e internet, passeia etc. e, portanto, é justo que pague também por parte delas.
Cada vez mais vemos homens percebendo que as tarefas da casa também são suas e as mulheres percebendo que as contas da casa também são delas.
No caso de marido e mulher acordarem que um irá trabalhar fora e o outro se ocupará com as questões domésticas, deverão entender que numa parceria, ambos estão contribuindo para compor o orçamento, seja com valor em dinheiro ou com valor em forma de serviço. Mesmo assim, o casal ainda precisa avaliar outros critérios. Como, por exemplo, aquelas tarefas que envolvem a vida familiar que nunca dão folga e se estendem para o turno da noite, refeições, momentos de lazer, passeios, viagens, visitas, feriados, finais de semana, férias etc. Essas tarefas não podem simplesmente entrar no bojo das tarefas de quem não tem um trabalho (remunerado) fora de casa, pois certamente haverá sobrecarga. Por outro lado, aquele que trabalha fora não poderá assumir a sobrecarga de dividir igualitariamente todas as tarefas domésticas com quem decidiu trabalhar somente em casa. Tanto em uma situação como na outra poderá se estabelecer um sentimento de "estar sendo injustiçado", podendo gerar disputas e cobranças que afetam negativamente a parceria conjugal e a vida familiar.
Homem e Mulher reconhecendo-se mutuamente capazes em razão e emoção caminham melhor em parceria numa convivência mais enriquecedora, em que ambos se comprometem com o sistema do casamento numa proatividade amorosa, empática e colaborativa.